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Conduzida pela empresa de inteligência contra golpes financeiros Silverguard – com dados do Banco Central (obtidos com a Lei de Acesso à Informação) e análises de 12.197 mil denúncias de vítimas na Central SOS Golpe -, a terceira edição da pesquisa Golpes com Pix revela que o prejuízo médio por vítima de golpe subiu 21% em relação a 2024, alcançando R$ 2.540. O levantamento identificou a migração das contas usadas pelos criminosos: se antes o destino do dinheiro eram majoritariamente contas de pessoas físicas, agora a maior parte vai para contas jurídicas, um sinal claro da profissionalização do crime digital.

 Entre as classes sociais, o abismo de perdas se aprofundou: nas classes A/B, o prejuízo médio chegou a R$ 10.500 (67% acima do valor de 2024), enquanto na classe C foi de R$ 4.300 e nas classes D/E de R$ 1.500. Na análise por idade, vítimas com 60 anos ou mais perdem, em média, cinco vezes mais que jovens de 18 a 29 anos. Pessoas jurídicas registraram perdas de R$ 5.200, o dobro das pessoas físicas (R$ 2.500). Dois em cada três golpes têm origem em plataformas da Meta, com o WhatsApp liderando (29,6% dos casos), seguido por Instagram (21,4%) e Facebook (13,1%).

 A pesquisa traz uma análise especial do uso do Mecanismo Especial de Devolução (MED). Lançado pelo Banco Central em 2021 para devolver valores em casos de golpes via Pix, ele ainda é pouco conhecido e vem perdendo eficiência em ritmo preocupante. Embora as infrações abertas pelo MED devam ultrapassar R$ 7 bilhões em 2025, apenas 6,8% dos valores poderão ser efetivamente devolvidos – uma taxa em queda contínua desde 2023. O levantamento da Silverguard analisa que a migração dos golpes para contas PJ e o uso de intermediários de pagamento vêm fragilizando a engrenagem do mecanismo.

SÃO PAULO | Em 2025, os golpes digitais se sofisticaram e se consolidaram como um dos principais crimes contra o patrimônio no país. A terceira edição da pesquisa Golpes com Pix, da Silverguard, mostra que o prejuízo médio por vítima subiu 21% em relação a 2024, alcançando R$ 2.540. O levantamento – que será divulgado em 28 de outubro em evento on-line – analisou mais de 12 mil denúncias recebidas pela Central SOS Golpe e aponta um cenário de profissionalização das fraudes, que movimentam bilhões de reais todos os anos.

Os dados levantados pela pesquisa ajudam a dimensionar a gravidade do cenário: só em golpes de engenharia social, ou seja, aqueles no qual o criminoso engana a vítima a fazer um pagamento, as perdas chegaram a R$ 51 bilhões nos últimos 12 meses. Quando se somam fraudes com cartão de crédito (R$ 23 bilhões) e fraudes em contas-correntes e poupanças (R$ 38 bilhões), o rombo ultrapassa os R$ 100 bilhões, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública – que aponta, ainda, que o impacto também é desigual. Vítimas com 60 anos ou mais perdem, em média, cinco vezes mais do que jovens de 18 a 29 anos. As empresas, por sua vez, registram prejuízos médios de R$ 5.200, o equivalente ao dobro do valor registrado por pessoas físicas, de acordo com dados da Silverguard.

Uma das estratégias de golpe identificada pela pesquisa é a mudança no destino do dinheiro roubado. Se antes os recursos iam, em sua maioria, para contas de pessoas físicas, agora 65% dos golpes – dois a cada três – têm como beneficiárias contas empresariais: principalmente LTDA. (91%), seguidas por MEI e S.A. Em 2024, a pesquisa registrou que 42% dos golpes tinham como destino contas Pessoa Jurídica (PJ). Esse estratagema do crime dificulta os bloqueios, dá aparência de legitimidade e se confunde com disputas comerciais reais.

“Os golpes digitais deixaram de ser práticas amadoras. O que vemos hoje é uma indústria criminosa altamente estruturada, que movimenta bilhões, aluga contas PJ, compra anúncios em redes sociais e funciona como uma empresa paralela ao mercado formal. Estamos diante de um crime organizado digital que cresce em escala e sofisticação”, afirma Marcia Netto, CEO da Silverguard e coordenadora da pesquisa.

O estudo também traz um ranking dos Estados mais afetados. Alagoas lidera em valor médio de prejuízo por golpe (R$ 3.370), seguido por Espírito Santo (R$ 2.890) e Roraima (R$ 1.880). Em São Paulo, o maior mercado financeiro do país, a perda média ficou em R$ 1.600. Já o Rio Grande do Norte aparece com a menor média registrada, de R$ 650 por vítima.

O levantamento revela, ainda, os caminhos preferidos dos criminosos. Quase dois terços dos golpes têm origem em plataformas da Meta: o WhatsApp responde por 29,6% dos casos, o Instagram por 21,4% e o Facebook por 13,1%. O Telegram, em ascensão, já concentra 11,8% das ocorrências – um crescimento de 61% em relação a 2024. Golpes em aplicativos de jogos também dispararam, com alta de 355% em apenas um ano. Ainda que representem só 1,8% dos casos, as ligações telefônicas provocam o maior prejuízo médio: R$ 6.200 por vítima, sendo um terço delas do tipo spoofing, quando o golpista se passa por um número conhecido.

DESTAQUE DA ANÁLISE

“Dois em cada três golpes hoje começam em plataformas da Meta e 85% em alguma Big Tech. O cenário fica ainda mais perigoso com o uso crescente de inteligência artificial, especialmente deepfakes, que tornam as histórias mais convincentes. A nova interpretação do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o artigo 19 do Marco Civil pode ser um divisor de águas: ao permitir a responsabilização de plataformas a partir de uma notificação extrajudicial, abre-se caminho para dividir de forma mais justa o peso entre bancos, fintechs e big techs”, avalia Marcia.

Os golpes em aplicativos móveis de jogos também chamaram a atenção dos pesquisadores da Silverguard: embora representem apenas 3,6% das ocorrências, cresceram 355% no último ano. Em patamares menores, aparecem sites de conteúdo (3,5%), marketplaces (3,4%) e buscadores (2,8%). Já “outros” canais somam 3,2%, enquanto TikTok (1,9%), ligações telefônicas (1,8%) e e-mails (1,8%) dividem espaço com plataformas menos relevantes como YouTube (0,8%), SMS (0,7%) e correspondência impressa (0,4%). Entre os canais de nicho, destaque para Discord (0,2%) e LinkedIn (0,1%) — são praticamente residuais.

RAIO X DOS GOLPES COM PIX 2025

Os dados da pesquisa Golpes com Pix confirmam o deslocamento do crime para o ambiente digital. De 2018 a 2025, o número de estelionatos cresceu 408%, enquanto os roubos caíram 51%. Só no último ano, os estelionatos eletrônicos subiram 26% e os roubos físicos recuaram 14%. O resultado é um rombo bilionário: além dos R$ 51 bilhões perdidos com golpes de engenharia social, os brasileiros perderam R$ 23 bilhões em fraudes com cartões de crédito e R$ 38 bilhões em fraudes bancárias envolvendo contas-correntes e poupança.

TIPOS DOS GOLPES COM PIX | Os golpes mais comuns continuam sendo compras falsas em perfis ou lojas inexistentes (42,9%), seguidas por falsas oportunidades de emprego ou renda extra (12,5%) e promessas de multiplicar ou investir dinheiro (12,2%). Mas a incidência varia por idade: entre menores de 18 anos, 59% caíram em compras falsas, enquanto 15,3% foram vítimas de sorteios ou prêmios inexistentes. Já entre pessoas com mais de 60 anos, os golpes mais frequentes foram pedidos de ajuda ou empréstimo (22%) e aqueles envolvendo falsas promessas de benefícios ou indenizações (16,5%).

 GOLPES POR IDADE | Vítimas e os golpes que as pessoas mais acreditam

As narrativas, lojas e os produtos são alterados a cada três meses pelos golpistas, mas sempre permanece, por trás da história, uma estratégia-base. 

_ Menos de 18 anos: compra de um produto ou serviço de uma loja/perfil falso (59,1%); falsa oportunidade de ganhar um produto ou sorteio (15,3%); e falsa oportunidade de multiplicar, investir ou apostar dinheiro (13,6%).

_ De 18 a 29 anos: compra de um produto ou serviço de uma loja/perfil falso (46,8%); falsa oportunidade de multiplicar, investir ou apostar dinheiro (13,6%); e falsa oportunidade de emprego e renda (12,5%).

_ De 30 a 39 anos: compra de um produto ou serviço de uma loja/perfil falso (41,3%); falsa oportunidade de emprego e renda (16,3%); e falsa oportunidade de multiplicar e investir dinheiro (12,6%).

_ De 40 a 49 anos: compra de um produto ou serviço de uma loja/perfil falso (42,3%); falsa oportunidade de emprego e renda (11,8%); e falsa oportunidade de multiplicar e investir dinheiro (11%).

_ De 50 a 59 anos: compra de um produto ou serviço de uma loja/perfil falso (33,8%); impostor pedindo dinheiro emprestado e/ou ajuda (12,2%); e falsa oportunidade de emprego e renda (11,3%).

_ Mais de 60 anos: compra de um produto ou serviço de uma loja/perfil falso (27,6%); impostor pedindo dinheiro emprestado e/ou ajuda (22%); e falsa oportunidade de conseguir empréstimo, benefício ou indenização (16,5%).

GOLPES POR CLASSE SOCIAL (TIPOS E VALORES PERDIDOS) | Apesar de brasileiros de todas as classes sociais serem alvos do golpe da compra falsa, algumas táticas são mais comuns e com maior prejuízo para as classes AB, C ou DE. A perda média das vítimas em golpes chegou a R$ 2.540, valor 21% maior do que em 2024. O impacto, no entanto, varia bastante conforme o perfil: enquanto nas classes DE a média é de R$ 1.500, nas classes A/B o prejuízo atinge R$ 10.500, um aumento de 67% em relação ao ano passado.

_ Classe AB:  a média de prejuízo do golpe de multiplicar, investir ou apostar dinheiro é de R$ 43.300; responder uma mensagem de alerta do banco (R$ 31.400); e conseguir empréstimo, benefício ou indenização (R$ 30.200).

_ Classe C: a média de prejuízo do golpe de multiplicar, investir ou apostar dinheiro (R$ 12.200); conseguir um emprego ou renda extra (R$ 8.900); e responder uma mensagem de alerta do banco (R$ 7.700).

_ Classe DE: a média de prejuízo do golpe de multiplicar, investir ou apostar dinheiro é de R$ 3.100; conseguir um emprego ou renda extra (R$ 2.900); e responder uma mensagem de alerta do banco (R$ 2.700).

RANKING Estados com maior concentração de vítimas (PF) e média de prejuízo  

  1. Santa Catarina (SC): R$ 1.220
  2. Distrito Federal (DF): R$ 1.730
  3. Minas Gerais (MG): R$ 1.570
  4. Paraná (PR): R$ 1.230
  5. Rio Grande do Sul (RS): R$ 1.690
  6. São Paulo (SP): R$ 1.600
  7. Rio de Janeiro (RJ): R$ 1.320
  8. Espírito Santo (ES): R$ 2.890
  9. Mato Grosso do Sul (MS): R$ 1.780
  10. Mato Grosso (MT): R$ 1.630
  11. Piauí (PI): R$ 810
  12. Rondônia (RO): R$ 1.330
  13. Amazonas (AM): R$ 970
  14. Bahia (BA): R$ 1.090
  15. Goiás (GO): R$ 1.730
  16. Pernambuco (PE): R$ 1.310
  17. Ceará (CE): R$ 960
  18. Sergipe (SE): R$ 1.310
  19. Amapá (AP): R$ 1.510
  20. Paraíba (PB): R$ 1.040
  21. Rio Grande do Norte (RN): R$ 650
  22. Alagoas (AL): R$ 3.370 [Maior prejuízo por golpe]
  23. Pará (PA): R$ 1.110
  24. Acre (AC): R$ 1.100
  25. Tocantins (TO): R$ 1.220
  26. Roraima (RR): R$ 1.880
  27. Maranhão (MA): R$ 990

| Cálculo do ranking: quantidade de vítimas de golpes dividido pelo total de transações Pix realizadas por Estado, de janeiro a junho de 2025.

MECANISMO ESPECIAL DE DEVOLUÇÃO (MED)

Lançado pelo Banco Central em 2021, o Mecanismo Especial de Devolução (MED) foi criado para facilitar a devolução de valores em casos de golpes e fraudes via Pix. Quatro anos depois, a ferramenta ainda é pouco conhecida pela população: 59,4% dos brasileiros afirmam nunca ter ouvido falar do MED – número que, embora tenha caído em relação aos 67,7% registrados em 2024, segue alarmante.

Além da baixa popularidade, o MED enfrenta outro desafio: as taxas de aceitação e devolução vêm caindo ao longo do tempo, de acordo com dados obtidos pelo Banco Central do Brasil pela Lei de Acesso à Informação.

Ano# MEDs Abertos% Aceitação
20222.236.24273%
20234.601.77157%
202412.419.62941%
2025 (projeção)16.044.62524%

Os MEDs acionados por fraude devem ultrapassar R$ 7 bilhões em 2025, mas a taxa efetiva de devolução está em queda e pode chegar a apenas 6,8% até o fim do ano.

Período% de Devolução
Junho / 20239,5%
Junho / 20248,5%
Junho / 20257,9%
Dezembro / 2025 (projeção)6,8%

Segundo Marcia Netto, CEO da Silverguard, a queda está ligada a uma combinação de fatores relacionados à nova configuração do ecossistema financeiro. “A mudança mais marcante da edição de 2025 do estudo de Golpes com Pix foi a migração massiva dos golpes para contas PJ. Acreditamos que isso está diretamente ligado à queda progressiva na aceitação dos MEDs abertos, já que os principais ofensores são, hoje, intermediários de pagamento”, aponta.

Desde que o Banco Central vinculou o aceite de uma infração do MED à marcação de fraude do documento no DICT, as instituições recebedoras passaram a negar infrações envolvendo essas empresas, pois, ao aceitar a infração, o documento é marcado, impedindo que este cliente receba novas transações naquela instituição. Para resolver o problema na origem, segundo análise da Silverguard, é necessário criar um terceiro nível no arranjo do Pix, como já ocorre nos boletos. Isso permitiria que o ecossistema tivesse maior visibilidade sobre o cliente por trás do intermediário de pagamento.

“Sabemos que essa é uma mudança tecnológica profunda e de longo prazo, mas, sem esse ajuste, a efetividade do MED tende a cair, mesmo com o MED 2.0 – já que a instituição de pagamento recebedora da primeira transação continua sendo a responsável pela devolução dos demais níveis. Enquanto o terceiro nível do arranjo Pix não é implementado, precisamos buscar soluções alternativas para evitar que golpistas se escondam atrás de intermediários de pagamento e, ao mesmo tempo, melhorar a taxa de aceitação e devolução do MED”, finaliza a coordenadora da pesquisa.

METODOLOGIA | A pesquisa Golpes com Pix 2025, realizada pela Silverguard em outubro de 2025, foi conduzida em três fases. Na primeira, utilizou-se a Lei de Acesso à Informação (LAI) para obter dados inéditos do Banco Central sobre as solicitações do Mecanismo Especial de Devolução (MED) do Pix de 2024. Na segunda fase, os pesquisadores analisaram 12.197 denúncias de vítimas atendidas pela Central SOS Golpe, com perfis demográficos completos. A amostra contou com 57% do gênero feminino e 43% do gênero masculino. Quanto à classe social, 4,1% eram da classe AB; 24,6%, da classe C; e 71,3%, da classe DE. Em termos de faixa etária, 3,9% tinham menos de 18 anos; 37,5%, de 18 a 29; 35,6%, de 30 a 39; 18,5%, de 40 a 49; 9%, de 50 a 59; e 5,5% tinham mais de 60 anos.

A terceira fase envolveu entrevistas exclusivas com especialistas nacionais e internacionais do setor de antifraude.

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