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Mudança no modelo de impostos promete simplificar o sistema, mas acende alerta para aumento de custos e necessidade de profissionalização no campo 

A reforma tributária aprovada pelo Congresso Nacional inaugura uma nova fase na estrutura fiscal brasileira e promete impactos significativos para todos os setores da economia — especialmente o agronegócio, um dos motores do PIB nacional. A proposta, que substitui tributos como ICMS, IPI, PIS e Cofins por dois novos impostos — o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e o CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) —, busca simplificar o sistema, mas também exige atenção redobrada dos produtores rurais. 

Um dos principais efeitos práticos será a adoção de um modelo de crédito financeiro mais amplo, que permite o aproveitamento integral dos tributos pagos ao longo da cadeia. Para o agro, isso pode significar uma redução na cumulatividade dos impostos, tornando os produtos mais competitivos no mercado interno e nas exportações. No entanto, o fim de isenções e benefícios fiscais, amplamente utilizados pelo setor, levanta preocupações. 

“O novo modelo é mais moderno e transparente, mas exige uma mudança significativa na forma como o produtor administra suas obrigações fiscais. Será necessário substituir práticas informais por uma gestão contábil estruturada e regularizada”, explica Gabriela Torezzi, diretora executiva da NTW Contabilidade e Gestão Empresarial de Ribeirão Preto e da NTW Agro Solutions Guaxupé, em Minas Gerais. 

A cobrança do imposto no destino — e não mais na origem — também muda o jogo para estados produtores, regiões tradicionalmente agrícolas podem perder arrecadação, enquanto os estados consumidores ganham protagonismo. Além disso, a unificação de alíquotas reduz a margem de diferenciação entre setores, exigindo ainda mais eficiência das cadeias produtivas. 

Entre as medidas específicas para o agro, a reforma prevê regimes diferenciados para agricultura familiar, cooperativas e produtos da cesta básica nacional. Esses segmentos poderão contar com alíquotas reduzidas ou até isenção, dependendo da regulamentação complementar que será definida nos próximos meses. A exportação de commodities continua desonerada, com manutenção da imunidade tributária e devolução integral de créditos acumulados. 

Mesmo com essas previsões, o risco de aumento da carga tributária ainda preocupa, sobretudo para produtores que hoje operam com isenções. Produtos como milho, soja, leite in natura e hortaliças, por exemplo, podem passar a ser tributados, encarecendo os custos de produção. “Para os pequenos produtores, isso pode ter um efeito cascata, já que o aumento no custo de insumos impacta diretamente a margem de lucro”, alerta Gabriela. 

A reforma também demanda uma nova postura no planejamento tributário e financeiro. Com a necessidade de formalizar todas as operações para aproveitar os créditos de IVA, o produtor rural precisará atualizar seus sistemas, revisar contratos e acompanhar de perto as normas complementares. A contabilidade estratégica deixa de ser um diferencial e passa a ser uma exigência básica de sobrevivência no mercado. 

A transição para o novo modelo ocorrerá de forma escalonada até 2033, mas os primeiros efeitos já começam a ser sentidos a partir de 2026, com a entrada em vigor das novas regras. Até lá, especialistas recomendam que o setor invista em capacitação e conte com apoio técnico para garantir uma adaptação segura. “O momento exige cautela, mas também é uma oportunidade de profissionalizar o setor e corrigir distorções históricas”, conclui Gabriela Torezzi.

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