Para a Pantalica Partners, três fundamentos são decisivos para a virada financeira no mercado rural
Com 25% de participação no PIB nacional e cerca de R$ 800 bilhões em crédito captados anualmente junto ao sistema financeiro, o agronegócio brasileiro continua sendo uma das engrenagens centrais da economia. Mas, para a Pantalica Partners, o setor enfrenta um desafio: crescer sem gestão é um risco real de colapso.
Segundo o sócio da consultoria, Salvatore Milanese, o campo brasileiro vive uma realidade contraditória: ao mesmo tempo que surgem novas ferramentas financeiras, como Fiagros, CRAs, CPRs digitais e fintechs especializadas em crédito rural, também cresce o número de produtores que enfrentam endividamento excessivo e inadimplência.
“A tecnologia financeira chegou ao campo. O problema não é mais acesso ao crédito, e sim a forma como ele é usado. Muitos produtores ainda tomam decisões baseadas em intuição, sem estratégia, e acabam comprometendo o futuro da operação”, explica Milanese.
O reflexo está nos números: o agronegócio brasileiro registrou mais de R$ 100 bilhões em inadimplência nos últimos 24 meses, e os pedidos de recuperação judicial bateram recorde em 2024, mais que dobrando em relação ao ano anterior, de acordo com dados da Serasa Experian.
O erro recorrente: alavancagem descontrolada
Para Salvatore, o principal vilão da crise financeira no agro não está apenas no clima ou na oscilação das commodities, mas em uma prática comum: a alavancagem desordenada.
Milanese explica que, em períodos de safra boa e preços elevados, muitos produtores se sentem confiantes para expandir rapidamente, financiando projetos de longo prazo com dívidas de curto prazo. “Essa falta de alinhamento entre prazo da dívida e prazo do retorno é fatal. O produtor rural precisa se ver como gestor e planejar como uma empresa”, alerta.
Três pilares para a virada
A Pantalica defende três ações estratégicas como base para uma virada no setor:
- Gestão profissionalizada: É preciso adotar práticas empresariais no campo — com controle de fluxo de caixa, análise de rentabilidade e avaliação de riscos financeiros.
- Planejamento financeiro estruturado: O crédito deve ser parte de uma estratégia de crescimento — e não um improviso. Em certos momentos, reduzir o tamanho da operação ou vender ativos para reduzir dívidas pode ser a melhor escolha.
- Sucessão familiar com capacitação: O processo de transição entre gerações deve ser usado como oportunidade para trazer novas competências e visão de negócio para dentro da propriedade.
Para a Pantalica, o agronegócio brasileiro tem força, produtividade e protagonismo global, mas só conseguirá manter sua competitividade se evoluir também na qualidade da gestão.
“O agro é gigante. Mas nenhum gigante sobrevive sem equilíbrio financeiro. O próximo salto do setor não será só tecnológico — será estratégico”, conclui Milanese.