
O mundo do trabalho está em transformação. A valorização da autonomia, impulsionada pelas novas gerações, desafia o modelo tradicional baseado na estabilidade da CLT. Enquanto isso, cresce a urgência por ambientes que promovam bem-estar, segurança e desenvolvimento humano. Entre esses dois polos — liberdade e proteção — surge uma necessidade: criar novas formas de gestão capazes de atender aos anseios contemporâneos sem abrir mão dos direitos fundamentais.
A entrada em vigor da nova Norma Regulamentadora 1 (NR1), prevista para maio de 2025, marca um momento estratégico para repensarmos o papel das empresas na promoção da saúde mental e da qualidade de vida no trabalho. Longe de representar apenas um ajuste legal, a NR1 abre caminho para uma mudança cultural. Ela convida lideranças a assumirem um protagonismo na construção de ambientes mais humanos, inclusivos e sustentáveis.
Embora suas diretrizes incidam diretamente sobre trabalhadores formais, especialmente em médias e grandes empresas, a NR1 também nos inspira a olhar além dos limites da regulamentação. Em um cenário em que a informalidade e o trabalho por conta própria crescem, é fundamental que organizações de todos os portes adotem práticas que cuidem das pessoas, independentemente de seus vínculos contratuais.
Mais do que atender à lei, investir em bem-estar é uma estratégia inteligente. Empresas que valorizam a saúde mental tendem a reduzir o turnover, melhorar o clima organizacional e atrair talentos com mais facilidade. A NR1, portanto, pode ser o ponto de partida para posicionar o cuidado como diferencial competitivo — um sinal de maturidade, responsabilidade e visão de futuro.
O fenômeno da “uberização” do trabalho, muitas vezes vendido como sinônimo de liberdade, tem exposto trabalhadores a uma série de vulnerabilidades: instabilidade financeira, falta de garantias, ausência de suporte. Esses fatores impactam diretamente o bem-estar e afastam cada vez mais o ideal de felicidade do cotidiano profissional.
É nesse contexto que grandes empresas podem liderar uma mudança significativa. Ao priorizarem o bem-estar e a segurança como valores centrais, essas organizações se tornam capazes de oferecer alternativas reais a quem busca equilíbrio entre propósito, autonomia e estabilidade. Trata-se de criar espaços onde a dignidade do trabalho seja inegociável— e onde a felicidade seja uma meta realista e possível.
O futuro do trabalho não precisa ser uma escolha entre liberdade e proteção, até porque, muitas vezes, essa decisão sequer está nas mãos do trabalhador. Diante da precarização e da escassez de oportunidades formais, o mercado impõe caminhos que pouco consideram as aspirações humanas. É por isso que a responsabilidade por ambientes mais justos recai sobre as lideranças — e não apenas sobre o indivíduo.
Construir uma nova cultura organizacional, onde segurança e autonomia caminhem lado a lado, requer comprometimento. Requer empresas dispostas a enxergar o trabalhador como parte central de seu sucesso — e não apenas como um recurso a ser otimizado. Esse é o chamado que a NR1 representa: não apenas uma norma, mas uma chance de recomeçar.
Transformar o ambiente de trabalho em um espaço de florescimento humano exige mais do que boas intenções. É um projeto de longo prazo, que envolve escuta, revisão de práticas, capacitação de lideranças e, acima de tudo, uma visão que coloque as pessoas no centro das decisões. As empresas que assumirem essa missão serão lembradas não apenas por seus resultados, mas pelo impacto positivo que deixaram na vida de seus colaboradores.
Felicidade no trabalho não é uma utopia. É uma construção possível, que começa quando reconhecemos que cuidar das pessoas é o caminho mais seguro para prosperar de forma duradoura e gerando longevidade as marcas e empresas. Que a NR1 seja, então, mais do que uma obrigação — que ela se torne o símbolo de uma nova era: em que a excelência empresarial nasce da conexão genuína entre trabalho, propósito e humanidade.
*Rodrigo de Aquino, especialista em felicidade corporativa
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