Participantes destacam a importância da cooperação entre Judiciário, órgãos de controle e setor financeiro, além de maior uso de inteligência e tecnologia para enfrentamento ao crime

A importância da integração entre os órgãos de fiscalização e controle no enfrentamento à lavagem de dinheiro e ao crime organizado foi o foco central de seminário promovido nesta quarta-feira (25), em Brasília, pelo Instituto Esfera de Estudos e Inovação, frente acadêmica do think tank Esfera Brasil, realizado no IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa). O encontro reuniu ministros do Supremo Tribunal Federal, do Tribunal de Contas da União, representantes do Ministério Público, Polícia Federal, Receita Federal e especialistas em segurança pública, para apresentar o estudo “Lavagem de Dinheiro e Enfrentamento ao Crime Organizado no Brasil: Reflexões sobre o Coaf em Perspectiva Comparada”, realizado pelo Instituto Esfera, em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O levantamento mostra a importância do fortalecimento do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e discute estratégias para tornar o combate ao crime mais eficaz, sistêmico e republicano.
Para o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, o combate ao crime organizado deixou de ser apenas uma questão de segurança pública e passou a ser um desafio institucional. “Mais do que armas, o enfrentamento exige inteligência financeira, rastreamento de ativos e atuação coordenada entre as instituições. Não se combate o crime cometendo crime. Esse trabalho precisa ocorrer dentro dos parâmetros constitucionais”, afirmou.
O ministro do Tribunal de Contas da União Bruno Dantas alertou para a necessidade de transformar dados em inteligência. “Não faltam dados, faltam integração, governança e prioridades compartilhadas. Precisamos de instituições que funcionem como um sistema”, disse Dantas. Já o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou que a cooperação entre instituições tem sido essencial para os bons resultados recentes. “Combater o crime organizado exige integração interna, cooperação internacional, descapitalização e prisão de lideranças. É estratégia, não espetáculo”, completou.
Na abertura do seminário, a CEO do Instituto Esfera e da Esfera Brasil, Camila Funaro Camargo Dantas, reforçou que a lavagem de dinheiro virou um “modelo de negócio” no Brasil e que é necessário que o país invista em mecanismos de controle de combate ao crime de organizado. “A criminalidade investe em criptoativos, comercializa ouro, patrocina apostas digitais, lava dinheiro em postos de combustíveis, presta serviços onde o Estado fracassa. A lavagem de dinheiro deixou de ser uma etapa final e tornou-se um modelo de negócio.”
O CEO da Casa ParlaMento, frente de articulação política da Esfera Brasil, João Victor Prasser, entregou ao presidente do União Brasil, Antônio Rueda, uma minuta de projeto de lei elaborado pela Esfera Brasil que propõe a criação de um programa de incentivo à instalação de câmeras de monitoramento em municípios brasileiros como ferramenta de prevenção e segurança pública. Rueda se comprometeu a avançar com a proposta no Congresso Nacional.
Papel estratégico do Coaf
Com cerca de 7,5 milhões de comunicações de operações suspeitas recebidas por ano e pouco mais de 100 servidores atuando em sua estrutura, o Coaf foi apontado por diversos participantes como o centro nervoso do sistema de prevenção à lavagem de dinheiro no Brasil, mas também como um órgão que precisa urgentemente de reforço institucional.
O advogado criminalista Pierpaolo Bottini, presidente do Conselho Acadêmico do Instituto Esfera, disse que é necessário que o Coaf opere em novas fronteiras como fintechs, bets e criptoativos, usadas muitas vezes para lavar dinheiro. “São setores sensíveis muito importantes e que não têm a obrigação de reportar ao Coaf um suspeito de lavagem de dinheiro. Se nós não regulamentarmos a forma pela qual as exchanges de criptoativos comunicam ao Coaf, teremos um amplo setor da economia, que é usado muitas vezes para lavar dinheiro, sem a obrigação de reportar e sem a possibilidade de fazer esses comunicados porque o canal é fechado. Vivemos com o apagão desses setores”, afirmou.
Bottini também defendeu o fortalecimento do quadro técnico, investimentos em tecnologia e infraestrutura e uma política clara de gestão e compartilhamento de dados do Coaf. A avaliação é que, com mais capacidade operacional, o conselho poderá gerar resultados ainda mais efetivos para a sociedade, contribuindo com inteligência de qualidade para a repressão qualificada ao crime financeiro.
Ricardo Saadi, diretor da Polícia Federal e futuro presidente do Coaf, defendeu que o órgão tenha um quadro de servidores próprios. Atualmente, a entidade conta só com funcionários cedidos de outros órgãos. “Precisamos criar um hub de troca de informações e valorizar as carreiras técnicas responsáveis pela análise desses dados. Só com uma estrutura mais moderna e integrada o Coaf conseguirá proteger ainda mais o cidadão”, disse.
Serviço:
Para mais informações sobre o estudo “Lavagem de Dinheiro e Enfrentamento ao Crime Organizado no Brasil: Reflexões sobre o Coaf em Perspectiva Comparada”, realizado pelo Instituto Esfera, em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, acesse AQUI e baixe na íntegra.