Às vésperas do início do tarifaço de 50% dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, previsto para amanhã, setores ligados à indústria e ao agronegócio intensificaram conversas com o governo para tentar definir um programa de socorro. Há pedidos por empréstimos subsidiados, redução de impostos e restituição acelerada de créditos acumulados ao longo da cadeia de produção, além de medidas para ajudar na manutenção dos empregos.
Ontem, após encontro com associações da agropecuária, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, afirmou que um plano de contingência será divulgado nos próximos dias e que irá incorporar, entre outras medidas, linhas de crédito e aumento de compras governamentais, para ajudar a absorver produtos agrícolas e aumentar estoques.
Alckmin também adiantou que houve pedido dos setores para ampliar o programa Reintegra (que devolve crédito tributário acumulado ao longo da cadeia) para médias e grandes empresas. “O plano de contingência prevê várias medidas, como crédito, pode prever compras governamentais… São várias medidas que devem estar sendo concluídas para serem anunciadas”, afirmou. “A partir de hoje ( ontem), as pequenas empresas vão ter 3% de restituição do valor exportado ( programa Acredita Exportação, anunciado antes do tarifaço), e o pleito do setor empresarial foi estender ( o programa) para as demais empresas prejudicadas na exportação para os EUA”, afirmou Alckmin.
Em entrevista à BandNews, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também afirmou que o plano pode prever, no curto prazo, compras governamentais e linha de crédito subsidiado para os setores mais afetados.
Ao sair do encontro com Alckmin, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), Eduardo Lobo, afirmou que o governo apenas ouviu, mais uma vez, as demandas sem apresentar medidas concretas. Ele entende que o Executivo ainda não entendeu a “urgência” do momento – adiantando, pelo menos, uma linha de crédito emergencial.
“Saímos de uma reunião na qual tínhamos muita expectativa, mas foi um pouco frustrante. Isso porque não vieram as medidas compensatórias que já haviam sido pedidas ao governo. Parece que o governo ainda não entendeu a urgência. Nosso tempo é de uma semana, não de seis meses; estamos em plena safra”, disse.
Segundo Lobo, o governo apontou que é preciso buscar novos mercados, e que as empresas terão ajuda para isso. “Tudo isso leva tempo, e tempo é o que não temos agora. O setor é inteligente, é capaz de se adequar e vai sobreviver, mas é preciso uma linha de crédito emergencial, para que o dinheiro chegue na ponta.”
Uma das preocupações do Ministério da Fazenda é de que as propostas de socorro sejam bem delimitadas, com ajuda somente para os verdadeiramente atingidos, e tenham prazo para acabar. Integrantes da equipe econômica lembram que o governo vem fazendo esforços para ajustar as contas públicas, e que tiveram de brigar pelo fim de programas criados durante a pandemia e que acabaram se tornando permanentes, como o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse).
CNI.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) elaborou oito pleitos do setor industrial, que foram entregues a Alckmin na semana passada. Na lista, figuram a criação de uma linha de crédito do BNDES, com taxas entre 1% e 4% para capital de giro; ampliação de 750 para 1.500 dias para liquidação dos Adiantamentos de Contratos de Câmbio (ACC); a reativação do Programa Seguro Desemprego; e o adiamento por 120 dias do pagamento de impostos federais. “Essas são as medidas prioritárias, mas entregamos ao governo uma lista maior, com 37 propostas”, afirmou Mário Sérgio Telles, diretor de Economia da CNI.
Segundo a entidade, 565 das 694 exceções ao tarifaço de 50% estão ligadas ao setor de aviação civil. Por isso, setores industriais relevantes, como de proteína animal e de máquinas e equipamentos, serão atingidos.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), José Velloso, disse que uma das preocupações é com o cancelamento de pedidos de exportação por parte dos americanos. Isso fará com que os exportadores brasileiros percam as garantias junto aos bancos nos ACCs, uma espécie de empréstimo que antecipa às empresas os valores exportados. “A gente vai pedir para o BC, que é quem cuida dos ACCs em andamento, um alongamento do prazo para liquidação dos empréstimos”, disse ele.
Fonte: O Estado de S.Paulo