Definir conceitos, ponto de partida e chegada, os líderes ou sponsors, e os projetos chave, são algumas das etapas preliminares dessa caminhada O conceito ESG ganha cada vez mais espaço e tração na pauta das empresas, saindo do discurso e se tornando realidade. Segundo uma pesquisa realizada pela Percepta Marketing e Comportamento, em parceria com o Instituto Somatório Inteligência de Mercado, em entrevistas realizadas em profundidade com 45 executivos de empresas brasileiras, 49% reportaram aumento na alocação de recursos em ESG e 71% assumiram que assuntos ligados ao tema tiveram algum impacto em suas companhias no último ano. No entanto, segundo Thais Pegoraro, líder da prática de Leadership Advisory, da EXEC, consultoria especializada em contratação e desenvolvimento de altos executivos e conselheiros, a grande dificuldade ainda é tornar esse tema tão importante – mas ainda tão desconhecido – uma iniciativa que mobilize a cultura da companhia como um todo. Para a especialista, parte dessa dificuldade vem da falta de conhecimento técnico e prático sobre o tema, bem como clareza no que são indicadores de sucesso e resultado. “O tema é relativamente novo para muitos de nós. Envolvem dificuldades muito semelhantes com as encontradas para o fortalecimento de qualquer outro valor cultural das empresas. Estou acostumada a liderar jornadas em direção a essa conquista e percebo que falta muita informação e orientação sobre como chegar lá”, ressalta Thais. O grande ponto é que adotar os princípios ESG não só no discurso, mas também na prática, é uma exigência global. “Empresas que não se encaixam nessa realidade vão perder mercado e terão dificuldade de expandir seus negócios, em qualquer lugar do mundo, pois ser ESG não é mais um diferencial, mas sim uma obrigação”. ESG é cultura! Para a especialista, as empresas devem ter departamentos focados em ESG, para assumir e comandar a execução de soluções e ações focadas no tema. Porém, ser ESG vai muito além disso. “Ser ESG deve ser algo que faz parte da cultura da empresa porque permeia os comportamentos das pessoas”, enfatiza Thais. Para ela, a cultura ESG deve abranger desde a liderança aos times que estão no dia a dia da operação da companhia. E o caminho, clichê ou não, é por meio da educação.A seguir, confira cinco dicas que a especialista Thais Pegoraro aponta como cruciais para iniciar uma jornada de transformação focada em ESG. 01 – Definir o que é ESG para a sua companhia A falta de diretrizes e indicadores globais sobre o tema é fruto da dificuldade de defini-los, segundo Thais, tendo em vista que a aplicação prática do conceito é diferente para cada contexto. Por isso, um dos primeiros passos que a companhia deve dar é estabelecer o que é um valor ESG para aquela empresa.De acordo com Thais, a empresa deve se fazer algumas perguntas importantes como: Por que se tornar ESG? Isso faz parte do core business da empresa? Será uma ferramenta de reparação para esse core business? É para ter um diferencial competitivo? Ou para obter financiamentos e licenças? Qual é o objetivo de se tornar ESG no longo prazo? 02 – Defina seu ponto de partida e chegada Como em um aplicativo de GPS, segundo a sócia da EXEC, é preciso saber onde se está e para onde vai. “Só assim é possível calcular tempo, esforço, melhores rotas e rotas alternativas”. De acordo com Thais, a EXEC possui um assessment de cultura detalhado com metrificações palpáveis, que tem como objetivo avaliar a real aderência dos valores da empresa na cultura atual, e, com isso, definir a jornada ESG. “Mas você pode iniciar esse processo com um grupo focal pequeno. Selecione aleatoriamente líderes de diferentes áreas e faça as perguntas que importam. Às vezes basta uma escuta ativa para já identificar obstáculos e caminhos. Com isso, é possível ter um termômetro para medir se o ESG já é vivenciado, ou não, e, a partir daí será possível partir para o desenho da estratégia”, afirma. 03 – Defina o guardião e seu time Não existem conquistas sem um time, na visão da especialista da EXEC. Segundo ela, o melhor caminho é sempre buscar um expert para liderar um projeto. “Mas em um primeiro momento, uma alternativa é criar um squad com os perfis necessários e pessoas genuinamente interessadas no assunto”, pontua. 04 – Crie um mapa de navegação Agora que a empresa já sabe onde está, para onde vai e tem uma tripulação, chegou o momento de criar um mapa de navegação para a primeira viagem. “Estude o ambiente, faça benchmarking nacional e global, busque network, participe de eventos. Nesta etapa, também é um momento propício para calcular rota e definir prazos”, enfatiza Thais. 05 – Escolha o primeiro destino Cada empresa possui um contexto, mas para Thais, seguindo sua bagagem no assunto, a indicação é iniciar a jornada apostando na comunicação. “Na hora de criar seu mapa, tenha em mente que o squad ESG é como um ministério, que define parâmetros e caminhos. Porém, sem professores, que são a liderança, não se chega a lugar algum”, reflete. Se os líderes não se identificam com os valores da empresa, como eles irão estimular as pessoas a viverem esses princípios, indaga Thais. “Eles são os primeiros que devem ser conscientizados, só assim a área operacional será impactada”, afirma. Por meio da comunicação é possível fazer essa chamada de consciência de várias maneiras, pois as pessoas precisam ser educadas para isso, na visão de Thais. Adotar novos comportamentos e pensamentos não é algo natural, é preciso aprender a fazer isso – ninguém acorda mudado no dia seguinte. Até hoje, a grande maioria dos líderes foi educado para atingir alto desempenho e entregar lucro. Ou seja, eles foram treinados e não educados. Neste segundo caso, estamos falando de um movimento que não tem volta. “Seja por meio de um team building, a promoção de um workshop de liderança, ou uma comunicação direcionada para despertar da consciência, ou é o que a gente chama do início da jornada do herói, desse líder ESG mais humanizado e consciente”, aponta. A comunicação é considerada um veículo de sensibilização para as causas ESG, porém, de acordo com a especialista da EXEC, é preciso ter recorrência nessa “conversa”. “É fundamental adotar um plano de comunicação com os objetivos que devem ser comunicados e com a linguagem adequada a cada público – liderança e operacional. Não será a mesma comunicação que deve ser feita para o Conselho de Administração da companhia e para a área operacional”, destaca. 06 – Içar velas Agora é hora de içar as velas e colocar a mão na massa, ou seja, o projeto ESG em ação. Boa viagem! |