Especialista aponta caminhos para gestão do capital de giro e controle de dívidas diante do alto custo do crédito
Com a taxa básica de juros (Selic) mantida em 15% ao ano, o maior patamar desde 2017, o custo do crédito no país tem pressionado o caixa das pequenas e médias empresas (PMEs). Segundo dados do Sebrae e da Serasa Experian, o endividamento das micro e pequenas empresas cresceu 9,3% nos últimos 12 meses, alcançando cerca de 6,5 milhões de negócios com contas em atraso em 2025.
Para a advogada e empresária Mayra Saitta, fundadora do Grupo Saitta e especialista em Direito Empresarial e Contabilidade, o cenário exige disciplina financeira e planejamento estratégico. “Com juros nesse patamar, o crédito deixa de ser solução emergencial e passa a ser um risco. O empresário precisa olhar para o fluxo de caixa diariamente e rever o modelo de capital de giro para não comprometer a operação”, alerta.
Saitta ressalta que a renegociação de dívidas deve ser prioridade antes da inadimplência. “Negociar prazos e taxas com os bancos é essencial. Hoje, as instituições estão mais abertas a acordos diretos, especialmente quando há histórico de bom pagamento”, explica.
De acordo com levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC), 71% das PMEs brasileiras relatam dificuldade em manter capital de giro suficiente para as despesas mensais, principalmente em setores de varejo e serviços. Em paralelo, dados do Banco Central mostram que a inadimplência média das empresas subiu para 5,4% no segundo semestre de 2025.
O desafio, segundo Mayra, não está apenas na obtenção de crédito, mas na gestão eficiente dos recursos. “Planejamento tributário e financeiro são aliados diretos da sustentabilidade do negócio. Muitos empresários ainda não separam contas pessoais das empresariais, o que distorce o resultado real da empresa”, afirma.
Para enfrentar o cenário, ela recomenda algumas medidas práticas como controle rigoroso do fluxo de caixa, corte de despesas não essenciais, busca por consultorias de gestão e análise constante dos indicadores financeiros. “A Selic alta força o empreendedor a ser mais estratégico. É o momento de investir em conhecimento e gestão, não em endividamento”, conclui Mayra Saitta.
A expectativa do mercado, segundo o boletim Focus do Banco Central, é de que a taxa de juros só comece a recuar de forma gradual a partir do segundo trimestre de 2026, mantendo o crédito caro e exigindo ainda mais cuidado das PMEs com suas finanças.
