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O ambiente empresarial brasileiro atravessa um período de fortes turbulências. Levantamento divulgado recentemente pela consultoria RGF & Associados, que acompanha a quantidade de empresas em Recuperação Judicial (RJ) no país, identificou um aumento de 6,9% no número de companhias que recorrem à medida. Em março eram 4.881 empresas em RJ, ante 4.568 em dezembro de 2024. 

No mesmo período, 203 empresas concluíram o processo. Destas, 80% voltaram a operar sem supervisão judicial, 2% tiveram registro baixado ou encerrado por pendências e 18% acabaram em falência. Entre as causas do aumento, estão as elevadas taxas de juros e problemas de gestão, em especial no setor agroindustrial, que vem sofrendo forte pressão. 

Esse cenário interno se soma a fatores externos, como as novas taxações impostas pelos Estados Unidos, que ampliam a instabilidade para setores exportadores e cadeias produtivas no Brasil. A soma de pressões internas e externas acende um alerta para gestores e empresários, que precisam buscar estratégias graduais para manter suas operações de pé. 

Para Denis Barroso Alberto, sócio da Barroso Advogados Associados, enfrentar esse quadro exige clareza, planejamento e decisões assertivas, sempre respeitando uma lógica de etapas. 

“Tomar a decisão certa no momento adequado pode evitar desgastes desnecessários e até salvar o futuro da empresa. É fundamental enxergar a crise como um processo em degraus, que começa na prevenção e pode chegar, se necessário, até a recuperação judicial. Cada etapa precisa ser tratada com seriedade”, afirma o advogado. 

Primeiro degrau: Prevenção – evitar que a crise se instale

Grande parte das empresas só busca alternativas quando a crise já tomou corpo. Para Denis, esse é um erro perigoso e recorrente. “Prevenir é sempre melhor do que remediar. Com acompanhamento jurídico e estratégico, é possível identificar riscos antes que comprometam a operação. Muitas vezes, um simples ajuste contratual ou a renegociação antecipada com fornecedores pode evitar a escalada de um problema”, explica. 

A prevenção envolve práticas como revisão da estrutura de custos, auditoria financeira, fortalecimento da governança e mecanismos de compliance. Embora pouco visíveis, essas medidas são fundamentais para a sustentabilidade de longo prazo. 

Segundo degrau: reestruturação – reorganizando os alicerces

Quando a crise já exige medidas mais robustas, entra em cena a reestruturação empresarial. Trata-se de um processo de reorganização que vai além da renegociação de dívidas, englobando análise profunda do modelo de negócio, revisão da operação e rediscussão das relações com credores. 

“Quando tratamos com empresas em crise, estruturamos planos personalizados que buscam revitalizar a empresa de dentro para fora. Isso significa redesenhar processos, repensar contratos, otimizar a estrutura e, quando necessário, renegociar passivos. O objetivo é restabelecer a saúde financeira e preparar o negócio para voltar a crescer. Lembrando que não existe uma fórmula pronta”, afirma Denis. 

Quando bem conduzida, a reestruturação não apenas protege a empresa da falência, mas pode transformá-la em uma organização mais moderna, eficiente e competitiva. 

Terceiro degrau: recuperação judicial ou extrajudicial – quando o tempo é curto

Se a crise se agrava a ponto de colocar em risco a continuidade da operação, os instrumentos legais de recuperação ganham protagonismo. 

recuperação extrajudicial é uma via mais ágil e sigilosa, que permite negociar com credores estratégicos sem a ampla exposição de um processo judicial. É indicada quando a empresa ainda tem fôlego para articular acordos diretos. 

Já a recuperação judicial oferece proteção mais ampla, com suspensão de execuções e penhoras e inclusão de créditos trabalhistas, mas envolve maior burocracia e fiscalização judicial.

“A recuperação judicial ou extrajudicial pode ser um instrumento valioso para reorganizar finanças, liberar ativos e dar fôlego à empresa. Se usada com critério técnico, pode transformar um cenário de quase falência em uma oportunidade de retomada”, reforça Denis Barroso. 

O impacto da crise internacional

Se os desafios internos já não fossem suficientes, as empresas brasileiras precisam se preparar para um ambiente externo cada vez mais hostil. Barreiras comerciais impostas por grandes economias, como as recentes taxações norte-americanas, afetam indústrias exportadoras e cadeias produtivas dependentes de insumos importados. 

“Muitas vezes, a crise não nasce dentro da empresa, mas no cenário internacional. Alterações cambiais, barreiras comerciais e retração da demanda global podem afetar drasticamente o caixa. Empresas que não se preparam ficam vulneráveis a choques externos que fogem do seu controle”, alerta Denis. 

Passos práticos para quem pode ser impactado

Da crise à reinvenção

Em meio a tantos desafios, a principal mensagem é clara: a crise não precisa ser sinônimo de fim. Pelo contrário, pode ser um marco de reinvenção. 

“Empresas que conseguem enfrentar a tempestade com serenidade e visão técnica saem dela mais fortes e preparadas. A chave está em não esperar que o problema se agrave para só então agir. Decisões bem estruturadas podem ser o diferencial entre a falência e a recuperação”, conclui Denis Barroso.

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