A exaustão emocional deixou de ser uma exceção no ambiente de trabalho e passou a ser a regra silenciosa que compromete a produtividade, o engajamento e, sobretudo, a saúde mental de profissionais em diferentes setores. Em um cenário em que jornadas extensas, cobranças constantes e a falta de limites claros se tornaram padrão, a prevenção ao burnout precisa deixar de ser discurso genérico e passar a integrar a rotina de forma prática e intencional.
Estudos recentes confirmam o que muitos profissionais já sentem na pele: o Brasil está entre os países com maior prevalência de burnout no mundo. Segundo levantamento da International Stress Management Association (ISMA-BR), cerca de 32% dos brasileiros sofrem com a síndrome, e outros 30% estão em risco de desenvolvê-la. A Organização Mundial da Saúde (OMS), que reconheceu o burnout como um fenômeno ocupacional em 2019, alerta que ele está relacionado ao “estresse crônico no trabalho que não foi administrado com sucesso”.
Pequenas mudanças de comportamento podem ter efeitos significativos na redução do esgotamento crônico — e um dos hábitos mais eficazes é estabelecer limites com firmeza. Saber dizer “não” a tarefas ou convites que extrapolam a capacidade real de entrega é uma forma de preservar energia mental e garantir um desempenho sustentável. Pesquisas mostram que a assertividade está associada a menores níveis de estresse ocupacional e maior bem-estar psicológico (Linehan et al., 2015, Journal of Occupational Health Psychology). Apesar da resistência cultural ao ato de recusar, profissionais assertivos tendem a manter melhor equilíbrio emocional ao longo do tempo.
Outro ponto-chave está nas pausas ao longo do expediente. Interrupções breves e deliberadas — mesmo de apenas alguns minutos — ajudam a reduzir o nível de estresse acumulado e restauram o foco. Estudo da University of Illinois demonstrou que pausas curtas durante tarefas cognitivas prolongadas ajudam a manter a atenção e o desempenho ao longo do tempo (Ariga & Lleras, 2011, Cognition). Caminhar, respirar profundamente ou simplesmente sair por instantes da lógica de produtividade contínua pode parecer contraproducente, mas representa um investimento direto na capacidade de manter a mente ativa e saudável.
Há também uma diferença fundamental entre descansar e se recuperar. O tempo livre, muitas vezes preenchido por distrações passivas como redes sociais, não necessariamente resulta em renovação emocional. Segundo estudo do National Institutes of Health (NIH), atividades de lazer ativas — como hobbies criativos, contato com a natureza ou prática de esportes — estão mais fortemente associadas à sensação de bem-estar e recuperação do estresse do que o descanso passivo.
“A saúde mental, muitas vezes negligenciada, precisa ser discutida abertamente no ambiente corporativo. Quando as empresas abraçam essa questão, promovendo um ambiente de transparência e apoio, elas não apenas ajudam seus colaboradores, mas também moldam um futuro mais sustentável e saudável para toda a organização”, afirma Andre Purri, CEO da Alymente.
Em vez de soluções complexas ou intervenções grandiosas, a prevenção ao colapso mental pode começar com escolhas simples: respeitar limites, desacelerar com intenção e recuperar a energia de forma consciente. Em tempos de cansaço crônico normalizado, adotar esses hábitos é mais do que autocuidado — é uma estratégia de sobrevivência profissional.