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O burnout silencioso é caracterizado por um esgotamento gradual e discreto. A pessoa sente um cansaço excessivo, mesmo após longos períodos de descanso, e pode apresentar episódios de irritabilidade, insônia, dores de cabeça, dores musculares e uma certa apatia emocional. Como os sinais não são tão intensos ou paralisantes quanto os do burnout clássico, muitas vezes são ignorados ou normalizados.

Mas, no dia a dia, esses sintomas aparecem sob forma de uma crise de choro, da queda de produtividade, e, frequentemente, levam ao fenômeno conhecido como ‘quiet quiting’, ou ‘demissão silenciosa’. Nessa prática, os funcionários fazem o mínimo necessário para apenas se manterem no trabalho.

Para a psicanalista Flávia dos Anjos, psicanalista da Sow Saúde Integral — associação sem fins lucrativos que apoia famílias na busca pelo equilíbrio entre corpo e mente — as pessoas adotam essa estratégia como uma forma de autopreservação.

“A pessoa vai, aos poucos, fazendo apenas o mínimo necessário — e não por preguiça ou cansaço. Muitas vezes, é um mecanismo de autopreservação emocional. Ela começa a produzir o mínimo possível e entra em um ciclo em que passa a pensar: ‘Aqui é assim mesmo. A cobrança é grande, não tenho reconhecimento, então vou seguir como posso, fazer o meu e manter minha invisibilidade.'”, explica Flávia.

A pesquisa Engaja S/A, conduzida pela Flash em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Grupo Talenses, realizada em novembro de 2024, revelou que 75% dos funcionários admitiram ter praticado o quiet quitting com alguma regularidade nos três meses anteriores, enquanto 23% dos 2.736 entrevistados afirmaram produzir apenas o mínimo com frequência.

“A maioria das organizações não param para observar os impactos do quiet quitting. E, muitas vezes, as empresas só percebem quando o absenteísmo está grande ou o número de afastamentos por questões de saúde mental está alto”, complementa a psicanalista.

As empresas precisam intensificar a atenção à saúde mental de seus colaboradores. Dados do Ministério da Previdência Social mostram que, em 2024, o número de afastamentos registrados pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) por questões psicológicas ultrapassou 440 mil casos.

Desde maio deste ano, com a entrada em vigor das alterações da NR-1 (Norma Regulamentadora), os riscos psicossociais dos funcionários passaram a ser responsabilidade dos empregadores.

“Espero que as empresas realmente adotem essas mudanças. Acredito que ambientes que favorecem o diálogo — onde reuniões são realizadas e as pessoas são estimuladas a expressar o que pensam, de maneira adulta e sem retaliações — contribuem para um bom ambiente de trabalho. Por outro lado, empresas que prezam excessivamente pela competitividade e mantêm ambientes desgastantes tendem a causar adoecimento mental”, afirma.

Do ponto de vista de quem sofre com o burnout silencioso, é importante estar atento às pequenas mudanças do dia a dia e voltar o olhar para si mesmo.

“É importante observarmos as nossas rotinas e prestar atenção às pequenas diferenças que sentimos no nosso corpo e comportamento. Reavaliarmos os pratinhos que estão sendo colocados no alto para serem rodados. São muitos para equilibrar, mas quais são prioritários? Quanto eu tenho investido no meu autocuidado? É fundamental que as pessoas aprendam a respeitar seus próprios limites e necessidades emocionais — que todos nós temos. Todos precisamos descansar sem culpa”, ressalta Flávia.

Encontrar válvulas de escape pode ser a solução para que a vida não se restrinja apenas ao trabalho e à produtividade profissional.

“É importante que a pessoa tenha momentos para praticar atividade física, desfrutar de lazer e vivenciar experiências prazerosas. Ter atividades fora do trabalho é essencial. Caso contrário, a vida pode entrar em uma rotina maçante e desgastante, em que o dia a dia é marcado por um ambiente de trabalho competitivo e repleto de problemas, o que pode levar a algum grau de adoecimento. Por isso, é fundamental que a pessoa volte o olhar para si mesma”, finaliza a psicanalista.

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